Municípios da Grande Vitória promovem acolhimento e retorno voluntário de pessoas em situação de rua às suas cidades de origem

Municípios da Grande Vitória promovem acolhimento e retorno voluntário de pessoas em situação de rua às suas cidades de origem

Praças, marquises, calçadas e viadutos continuam sendo cenário do cotidiano de pessoas em situação de rua, muitas delas migrantes de outros estados, como Minas Gerais, Bahia e Rio de Janeiro. Com histórias diversas e, em muitos casos, marcadas pela vulnerabilidade social, uso de substâncias e perda de vínculos familiares, esses indivíduos têm recebido atenção das equipes de abordagem social das prefeituras da Grande Vitória.

Entre 2023 e 2024, mais de 1.300 pessoas aceitaram retornar voluntariamente para suas cidades de origem, com o suporte dos municípios da região metropolitana, que oferecem o recambiamento com base em critérios técnicos e escuta qualificada.

Somente em Vitória, em 2023, foram fornecidas 1.006 passagens. Neste ano, a rede socioassistencial da capital já atendeu 1.769 migrantes, sendo 1.249 recém-chegados à cidade e 87 imigrantes, além de 40 pessoas solicitantes de refúgio.

Na Serra, a Prefeitura viabiliza o retorno de pessoas em situação de rua ao convívio familiar, inclusive interestadual, desde que haja contato prévio com os familiares e articulação com a rede socioassistencial da cidade de destino. No primeiro trimestre de 2024, o Serviço Especializado de Abordagem Social (Seas) realizou cerca de 542 atendimentos, resultando no retorno voluntário de 172 pessoas.

Vila Velha registrou, entre 2023 e os primeiros meses deste ano, 145 recambiamentos de pessoas que manifestaram espontaneamente o desejo de retornar para seus estados ou municípios de origem.

Já em Cariacica, o retorno é viabilizado mediante manifestação voluntária e articulação com os serviços socioassistenciais da cidade de origem, garantindo um acolhimento adequado.


Voz das ruas: “Quero voltar e recomeçar”

A realidade vivida nas ruas, no entanto, é dura e muitas vezes solitária. Morador de rua em Vitória, um soldador de 49 anos, natural de Ipatinga (MG), compartilhou sua trajetória marcada por altos e baixos. Ele chegou ao Espírito Santo em 2010 em busca de trabalho, exerceu a profissão de soldador e chegou a empreender ao lado da esposa. Com o tempo, a dependência química mudou o rumo da sua vida.

“Achei que morar na rua era ser livre, mas não é assim. Tenho saudade dos meus filhos, da minha mãe. Queria voltar para a minha terra e recuperar tudo que perdi: os bens, a família e a dignidade”, relatou.

Apesar das abordagens realizadas pelas equipes sociais, ele ainda hesita em aceitar acolhimento, mas reconhece o impacto devastador do vício. Sua história reflete o dilema de muitos que vivem à margem, mas também revela a importância da escuta, do acolhimento e das oportunidades de reintegração.


Caso de recambiamento entre estados é investigado

Recentemente, o caso de 12 pessoas em situação de rua deixadas em Linhares, vindas de Cabo Frio (RJ), acendeu um alerta. Segundo a Casa de Passagem de Cabo Frio, os migrantes, a maioria com origem no Espírito Santo e outros estados vizinhos, expressaram desejo de retornar ao estado capixaba, especialmente por conta da safra de café.

Contudo, segundo a Prefeitura de Linhares, nenhum dos acolhidos era morador do município. O episódio está sendo investigado pelo Ministério Público do Espírito Santo, com articulação junto ao Ministério Público do Rio de Janeiro, e analisado pela Polícia Civil, que ainda não identificou crime que justifique atuação da corporação.


Acolhimento humanizado e políticas públicas intermunicipais

O apoio oferecido pelas prefeituras da Grande Vitória às pessoas em situação de rua vai além do transporte. As equipes de abordagem realizam escutas qualificadas, oferecem acolhimento e, sempre que possível, constroem pontes para a reintegração social com o apoio da rede socioassistencial.

Essas ações reforçam o compromisso dos municípios com políticas públicas humanizadas, voltadas à proteção, dignidade e reinserção social daqueles que, por diversas razões, se encontram em situação de extrema vulnerabilidade.