Arte com História: Exposição ‘Mãos das Ruas’ Encanta com Obras de Acolhidos do Abrigo I
“Nunca imaginei estar aqui. Estou sentindo uma felicidade que não sei nem dizer. Sinto só vontade de chorar”. Esta frase foi dita por José Carlos da Fonseca, de 60 anos, durante a abertura da exposição “Mãos das Ruas”, que reúne obras produzidas por 14 acolhidos do Acolhimento Institucional para Adultos e Famílias em Situação de Rua de Vitória, mais conhecido como Abrigo I.
O nome da exposição é uma referência ao público atendido no Acolhimento Institucional, que são pessoas em situação de rua, que assinam os quadros que estarão até o dia 30 de novembro na Biblioteca Adelpho Polimonjardim, na Cidade Alta, de segunda a sexta, das 8 às 17 horas. E José Carlos é um deles.
Para ele, a obra representa mais do que um retrato de um ponto da cidade. “É uma mostra de que eu posso superar minha condição. Que é possível tirar as coisas ruins dentro do meu pensamento”, declarou ele.
Segundo José Carlos, a sensação de superação cresce a cada dia desde que foi acolhido no Abrigo 1. “Lá encontrei pessoas boas e especiais (referindo-se à equipe de profissionais que trabalha dentro do Abrigo 1). Eles estão me ajudando a ter uma mudança interna”, disse ele.
Ao ser questionado quais seriam essas mudanças, José Carlos fez questão de listar uma a uma: “Voltei a estudar; vou fazer prova para o Ifes (Instituto Federal do Espírito Santo); vou evoluir para ter uma profissão e vou continuar pintando”.
Com uma fala bem articulada, questionei como foi parar nas ruas. A história seguiu contornos mais impactantes. “Minha família morreu toda. Minha mãe de morte natural e minhas duas irmãs de Covid. Aí fui parar nas ruas. Tinha problemas com a dependência química que agravou. Fiquei quatro meses nas ruas até chegar no Abrigo 1. Agora, a vida está voltando ao normal”, afirmou José Carlos.
Outro que estava coberto de orgulho de si era Milson Gomes Correia, de 44 anos. Em situação rua há mais de dez meses, ele disse que viu sua vida se transformar para melhor nos últimos seis meses, tempo que passou a “morar” no Abrigo 1.
“Lá (Abrigo 1) eu mexo com as plantas, cuido do jardim, da horta. Já fui encaminhado para fazer curso de porteiro, estou estudando na EJA (Educação de Jovens e Adultos). Estou no caminho, né?”, disse Milson, enquanto andava pela exposição.
Autor de uma das telas da exposição, ele disse que antes de chegar ao Abrigo 1, trabalhava no lava a jato até perder o emprego e, a partir daí passou a perambular pelas ruas da região central de Vitória.
“Sempre me achei capaz, mas não tinha mais oportunidade e o caminho das ruas acaba sendo o único”, comentou Milson. Demonstrando muita positividade, questionar sobre sonhos foi inevitável. “Quero conseguir um bom emprego; uma casa; e voltar a ter a confiança da minha família. Pouco a pouco vou conseguindo”, revelou.
A abertura da exposição “Mãos das Ruas” foi o momento áureo também para a Flávia Gomes, também acolhida do Abrigo 1. Ela falou que, pela primeira vez na vida, foi convidada a ser mestre de cerimônia de um evento. Ela, não só aceitou, como mostrou muita desenvoltura para orgulho dos colegas do Abrigo e pessoal.
“Estava nervosa, ansiosa, mas dei conta do recado. Agora, está dando tudo certo para mim. A equipe do Abrigo está ajudando muito”, revelou ela. Flavia, dona de uma voz especial, também desenvolveu seu potencial musical nas oficinas de artes ofertadas dentro do Abrigo.
“O Abrigo dá oportunidade e incentiva a gente. Eles olham para gente e não discriminam. Lá tem muitas histórias. Lá dentro do Abrigo tem pessoas com muitas qualidades. Lá é a oportunidade de recomeçar, se levantar e ficar de pé”, afirmou Flavia, que nos últimos meses voltou ao mercado de trabalho, conseguindo uma oportunidade de emprego para trabalhar como cuidadora de idosos.
Durante a abertura da exposição “Mão das ruas”, a secretária de Assistência Social, Cintya Schulz, fez questão de ressaltar que “a exposição tem obras de artes de pessoas que estão num abrigo por condições e histórias muito diversas que as levaram a condição de situação de rua”.
“A política de Assistência Social acolhe com muito respeito essas pessoas, as suas histórias, a gente trabalha todo dia para que elas superem essa condição de rua. Sabemos que não é um processo fácil, mas que é possível. Cada pessoa em situação de rua tem muitos talentos, tem história de violação de direitos. As pessoas importam. As pessoas são dignas de terem seus direitos garantidos. Com intuito da superação que estamos aqui hoje”, reforçou a secretária.
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