Especialistas vão a Assembleia e destacam a desnutrição um dos principais problemas no tratamento do câncer
Em audiência pública, especialistas na área de saúde defenderam que o tratamento integrado e multidisciplinar para quem tem câncer, com ênfase na nutrição oncológica, é fundamental para a sobrevida do paciente. O debate foi promovido pela Comissão de Saúde, na noite dessa terça-feira (4).
O presidente da Sociedade Brasileira de Nutrição Oncológica (SBNO), Nivaldo Barroso de Pinho, relatou que os cânceres que provocam maior dificuldade de alimentação e trazem a desnutrição são os de abdômen, cabeça, pescoço e tórax.
Segundo Pinho, é preciso o diagnóstico precoce para intervenções nutricionais e farmacológicas para evitar a perda de peso, causada pela anorexia, disfagia e vômitos, entre outros sintomas. A desnutrição afeta entre 20 e 50% dos pacientes com câncer.
“A inadequação nutricional na infância compromete os requisitos fisiológicos necessários para o crescimento e desenvolvimento físico e neurológico e pode favorecer o surgimento ou agravamento de doenças crônicas com impacto negativo na qualidade de vida desses indivíduos”, alertou o doutor em Ciências Nutricionais. Ele participou da audiência por meio de videoconferência.
De acordo com Pinho, nos próximos três anos estima-se o registro de 700 mil novos casos de câncer no país. Ele destacou os desníveis de acesso ao tratamento entre as regiões do país e disse que o paciente com mais de 65 anos da Região Norte do país sofre mais com a nutrição pela ausência de unidades especializadas.
O presidente da Comissão de Saúde, deputado Dr. Bruno Resende (União), comentou a informação: “O que me espanta é ter regiões do país como fator de risco. O que mostra que as políticas públicas não são distribuídas de maneira homogênea, ou seja, não há acesso distribuído obedecendo aos preceitos básicos do SUS”, ponderou.
Tratamento integrado
A nutricionista oncológica Olívia Galvão de Podestá enfatizou que a nutrição tem papel fundamental em todas as etapas da doença do paciente, inclusive antes e depois, na fase de recuperação. Em cada etapa da doença, há uma conduta para nutrição, que é importante no tratamento, explicou.
Ela revelou que, quando o paciente chega para tratamento nutricional, em geral está com desnutrição avançada. “Não existe tratamento oncológico sem falar de nutrição. Um dos tratamentos oncológicos, dentre todos os que existem, é a nutrição”, asseverou.
Segundo ela, baixa massa muscular, diminuição da massa magra são indícios de complicações e pouca resistência. Mesmo sendo uma pessoa obesa, mas com pouca massa magra, o paciente está fragilizado diante da doença.
A nutricionista defendeu o tratamento com base no Plano Europeu de Combate ao Câncer, com tratamento integrado em todas as fases da doença. Ela ressaltou que a desnutrição impacta negativamente nos resultados clínicos e tem consequências socioeconômicas.
Desnutrição é a regra
Como exemplo da situação nutricional de quem tem câncer, a nutróloga Karina Cassa Monteiro, do Hospital Evangélico de Cachoeiro de Itapemirim, informou que os pacientes que chegam ao hospital estão, em geral, comprometidos por causa da desnutrição.
De acordo com ela, a desnutrição responde por um terço das mortes dos pacientes. Um terço vem a óbito devido a infecções e o restante morre por causa do câncer propriamente. Karina Monteiro enfatiza que o ponto fundamental é a avaliação nutricional do doente.
O oncologista do Hospital Santa Rita Loureno Cezana lembrou que uma das prevenções é cuidar da alimentação enquanto a pessoa se mostra saudável. Disse que o tratamento em sua unidade tem sido cada vez mais abreviado, dando mais chance de sobrevida ao paciente. Para isso conta com a disponibilidade de alimentação adequada. Para ela, é preciso dar o atendimento necessário para cada caso e em cada estágio de doença.
A coordenadora da Câmara Técnica de Nutrologia do Conselho Regional de Medicina (CRM-ES), Karoline Calfa Pitanga, reafirmou que a nutrição representa mais de 95% do tratamento e da terapia e deve receber toda a atenção antes do procedimento cirúrgico.
A nutricionista Rafaela Donadeli expressou angústia com a falta de superação nutricional nos pacientes oncológicos, a deficiência de suprimentos para a alimentação padrão, a estrutura existente (como falta de balança para pesar o doente) e a falta de recursos para o SUS. Segundo ela, nem todos os médicos se comprometem com o trabalho multiprofissional. Por fim, Donadeli pediu mais apoio do estado do Espírito Santo para a superação dos problemas.
Recursos públicos
O Espírito Santo está entre as quatro unidades da Federação que têm o protocolo para a nutrição enteral, afirmou a gerente de assistência farmacêutica da Secretaria de Saúde (Sesa), nutricionista Giuliana Rizzo. Ela disse que é preciso identificar as demandas nutricionais para pensar as políticas públicas necessárias, considerando os limites dos recursos.
Por falar em necessidades e demandas, a nutricionista oncológica do Hospital Rio Doce, de Linhares, Carla Andressa Martins, relatou como tem se dado o atendimento na unidade. Ela informou que a área de nutrição tem sido pouco demandada. De 800 atendimentos registrados no mês de pacientes oncológicos, apenas 18 foram encaminhados ao setor de nutrição.
O atendimento é feito nas segundas e quintas-feiras. Mas ela disse que, no caso dos laudos, pacientes que vêm de muito longe são atendidos em outros dias, porque, se voltarem para casa, não retornam ao hospital. Além disso, há municípios que não têm Farmácia Cidadã.
O presidente da Comissão de Saúde, Dr. Bruno Resende, comprometeu-se em criar um grupo de trabalho técnico e representativo para debater as questões levantadas e tratá-las com o Poder Executivo. Conforme pontuou, um projeto de lei implica novos gastos e, por isso, teria de ser iniciativa do governo. O que se pode fazer é uma indicação parlamentar ao governador tratando dessas demandas, informou o deputado.
Além das falas registradas, participaram também a conselheira titular do Conselho Regional de Nutrição (CRN-ES) Juliana Pizzol Organo; e a presidente do Conselho Regional de Nutrição de Minas Gerais, Erica Simone Carvalho.
Fonte: Ales.
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